Introdução da História

2024

Alunos em Cena

Escola José Régio

Portalegre

Mentor

Sofia Bermudez Vogensen

Step 1 Sente

Os desafios identificados vêm contextualizados numa pesquisa realizada com uma amostra de 220 alunos em toda a escola Básica de José Régio, para o relatório de contexto do programa Teach for Portugal, pelas mentoras de 2024-2026. Os problemas foram apresentados nas turmas, e assembleias de delegados, selecionando uma turma para serem os líderes da resolução dos problemas. Foram concluídos e apresentados 3 problemas principais que afetavam os alunos ( infrastruturas e espaços físicos pouco agradáveis, as relações interpessoais e 30% dos alunos não gostam da escola, após inquiridos sobre o assunto). A turma do 6ºC votou, através da metodologia sociocratica, o problema "30% dos alunos não gostam da escola". Com esta informação avançamos para o primeiro passo: "Sentir".

O problema escolhido foi o desgosto e desmotivação de uma parte significativa dos alunos em relação à escola, evidenciado pelos resultados do questionário "E se fosses diretor da escola por um dia?". Nele, 30% dos alunos afirmaram que não gostam da escola, e esse sentimento foi partilhado também por encarregados de educação, que, tal como os alunos, responderam “discordo totalmente” à pergunta “Gosta da escola/do seu educando?”. Estes dados foram reforçados por entrevistas a membros da comunidade educativa (professora, associação de pais e EE) e por testemunhos diretos recolhidos ao longo do convívio diário com os alunos em contexto de sala de aula e clubes. As principais razões apontadas para esse descontentamento incluem: relações difíceis com os docentes, condições das instalações, perceção de injustiças e conflitos entre alunos. Este problema foi considerado o mais urgente porque afeta diretamente o bem-estar e a motivação dos alunos, comprometendo a sua aprendizagem e relação com o espaço escolar. Além disso, sentimos que há margem para mudança real, uma vez que a direção mostrou abertura para colaborar connosco na procura de soluções, valorizando as vozes dos alunos.

O problema escolhido acaba por ser um sintoma de problemas mais estruturantes e profundos, pelo que avançamos com uma exploração do problema através do desenho da árvore do problema onde a pares, e com a turma do 6ºC, desenvolvemos várias árvores do problema com causas e consequências possíveis. Algumas das causas identificadas foram: "matemática, mais aulas livres, professores envelhecidos, intervalos pequenos e muitas aulas, não haver professores substitutos, proibição dos telemóveis, ter mais atividades para a nossa idade, não gostam de estudar, horários, professores injustos, cadeiras desconfortáveis". Algumas das consequências identificadas são: "desinteresse, responder mal aos professores, faltar à escola, raiva, cansaço, a escola perde alunos, alunos dormem nas aulas, alunos ficam de castigo, não se aplicam, revolta, não passar de ano, pais ralham, saúde mental afetada ( depressão)": Os principais afetados são os alunos, mas os sintomas demonstram-nos que o problema também afeta os adultos da escola, como os docentes, não-docentes e encarregados de educação.

Step 2 IMAGINA

No relatório de contexto, recolhemos diversas sugestões dos alunos para melhorar a escola, muitas delas relacionadas com o problema identificado. As propostas incluíram: melhorar os horários (menos aulas, só de manhã, sair mais cedo), aumentar o tempo de intervalo e almoço, melhorar a alimentação e o bar, renovar o campo de futebol, realizar obras nas instalações, criar mais atividades extracurriculares (como futebol, viagens, sessões diversas), permitir o uso de telemóveis nos intervalos, mudar ou substituir professores, tornar as aulas mais curtas e menos cansativas, promover o respeito entre alunos e combater o bullying, melhorar salas, mobiliário e limpeza, dar mais liberdade aos alunos, reforçar a biblioteca, colocar mais caixotes do lixo e cartazes de sensibilização, fornecer mais equipamento escolar, criar novas disciplinas (culinária, finanças pessoais) e organizar sessões de cinema, tecnologias e outras novidades. Aproveitando a regulamentação do uso de telemóveis, realizámos reuniões nos intervalos e nas assembleias de delegados, onde recolhemos sugestões e identificámos alunos líderes para dinamizar os tempos não-letivos. Destas interações surgiram propostas concretas, como: Podcast da Rádio Régio, idealizado e conduzido por alunos, com mínima intervenção das mentoras e professores do Clube Rádio Régio; Festa de finalistas do 2.º ciclo, a primeira realizada na escola, com organização liderada por alunos em todas as fases; Torneios de desporto e videojogos, também com envolvimento direto dos estudantes. No final, optámos por não considerar sugestões relacionadas com infraestruturas, uma vez que a escola irá entrar em obras em breve, o que já dará resposta a muitas dessas preocupações.

Optámos por avançar com ideias que valorizassem os alunos e celebrassem as suas conquistas, com o objetivo de combater os rótulos negativos associados a algumas turmas, como o de “turma má”. Ao fazê-lo, procurámos mudar o paradigma, oferecendo-lhes voz, plataformas de expressão e espaços físicos na escola onde pudessem opinar e assumir papéis de liderança — algo inédito para muitos deles. Assim, implementámos duas soluções principais: o Podcast da Rádio Régio, inteiramente liderado e desenhado por alunos, com mínima mediação das mentoras e professores do Clube Rádio Régio; a Festa de finalistas do 2.º ciclo, a primeira a acontecer na escola, idealizada para fechar esse ciclo com significado e protagonismo dos próprios alunos, que lideraram todas as etapas de organização. Estas soluções foram escolhidas por responderem diretamente ao problema identificado (30% dos alunos afirmam não gostar da escola), e por aproveitarem recursos já disponíveis, como o Laboratório de Educação Digital e o Clube Rádio Régio, além de irem ao encontro da necessidade de modernizar os formatos de participação e expressão dos alunos.

Step 3FAZ

Para a festa de finalistas, os alunos apresentaram a ideia numa reunião de sondagem, organizaram-se em grupos e criaram uma comissão organizadora. Envolveram os pais em várias tarefas (fitas, restaurante, decoração), elaboraram um comunicado para as turmas e apresentaram na reunião de delegados, além de pedir autorização à direção. Quanto ao podcast, realizaram uma reunião de brainstorm inicial e aproveitaram momentos de discussão na escola, como a campanha para o Parlamento dos Jovens e a regulação do uso dos telemóveis, para convidar alunos de várias turmas a participarem e debaterem livremente.

O impacto do projeto tem-se refletido na boa recetividade do podcast nas redes sociais, que tem promovido a envolvência e colaboração entre alunos de diferentes turmas. Quanto à festa, fomos positivamente surpreendidos pelo sentido de compromisso demonstrado pelos alunos da comissão organizadora, alguns deles com pouca motivação escolar, que revelaram grande responsabilidade na preparação do evento. A adesão à festa tem sido muito elevada e a iniciativa recebeu elogios da direção, que a considera pioneira na história da escola, tanto em relação ao podcast como à festa. Ainda vamos avaliar o impacto real, através de uma sondagem de feedback sobre a festa que será feita daqui a duas semanas. Planeamos fazer algo semelhante para recolher opiniões sobre o podcast.

120

Depois de gravarmos um dos episódios do podcast os alunos envolvidos disseram " Diverti-me muito, foi uma tarde bem passada", após terem sido genuinos, sem filtros e descontraídos, algo que não podem ser muitas vezes em contexto escolar. Quando eu dei seguimento à ideia proposta do aluno para a festa final de 2º ciclo, ele ficou incrédulo e perguntou " Isso quer dizer que vou ser eu a organizar a festa?" com um toque de entusiasmo que demonstra que não é uma oportunidade que vem ao de leve, a de poder liderar uma iniciativa.

Um dos principais desafios foi o comportamento de alguns alunos em sala de aula, que inicialmente não colaboravam com a dinâmica escolar. Para ultrapassar essa dificuldade, estabelecemos um acordo claro: para que a festa de finalistas pudesse acontecer, todos teriam de mostrar compromisso com a escola. Esta negociação resultou num compromisso coletivo dos alunos, que aceitaram melhorar o comportamento para concretizar a iniciativa. Outro desafio foi a necessidade de organização e autogestão. Os alunos tiveram de aprender a autogovernar-se, delegar tarefas, gerir a logística do evento, envolver os encarregados de educação e ainda resolver conflitos entre colegas ao longo do processo. Estes obstáculos foram superados com mediação pontual por parte das mentoras, promoção da escuta ativa e responsabilização mútua e o reforço da confiança nas capacidades dos próprios alunos.

mais de 30 dias

Desigualdades reduzidas

Trabalhamos numa escola onde 60% dos alunos beneficiam de Ação Social, para além de afetados pela escassez de oportunidades de residerem numa região geográfica interior. Através do foco da agência, participação cívica, ao criar espaços de voz como o podcast, e através da liderança estudantil na criação de experiências positivas para os alunos, acreditamos que estamos a aumentar a adesão e motivação escolar que por sua vez faz funcionar com sucesso o elevador social que tanto procuramos no sistema educativo.

Step 4 PARTILHA

Partilhámos o projeto através das redes sociais já existentes do Clube Rádio Régio e criámos um perfil no TikTok para chegar de forma mais eficaz aos estudantes. Além disso, apresentámos o projeto na assembleia de delegados, onde foi muito elogiado pelo 2º e 3º ciclos e pela direção, que reconheceram a criatividade e o bom encaminhamento dos alunos. A fase de disseminação dos resultados está atualmente em curso, com especial enfoque na festa que irá realizar-se a 13 de junho.

mais de 100

Pretendemos que a festa de finalistas se torne uma atividade anual, envolvendo o Gabinete de Apoio ao Aluno e à Família para incluir esta iniciativa no Plano Anual de Atividades, facilitando a sua continuidade após avaliação positiva. Relativamente ao podcast, com o Clube Rádio Régio, já integrado na escola e alunos do 5º ano envolvidos, esperamos que esta iniciativa se torne um projeto estruturado e permanente, reforçado pela criação de um clube no Laboratório de Educação Digital que apoiará tecnicamente o podcast nos próximos anos.